Não vacinem chicos-espertos

  • 02-02-2021

 Não vacinem chicos-espertos

Ponto prévio: O mundo dos chicos-espertos não nasceu com a Pandemia, nem sequer é consequência, como parecem indicar os mais recentes episódios do processo de vacinação em curso.

O chico-espertismo anda por aí há longos anos e salta à vista em momentos de crise. É o que está a acontecer com os fura filas do processo de vacinação. Gente que aproveita o lugar que ocupa na sociedade para subverter a cadeia de prioridades e encontrar uma forma de se proteger a si e aos seus, ignorando que aquela vacina seria mais útil a outra pessoa. Isto não é apenas chico-espertismo, é crime. E se não é, devia ser. Foi por isso que já apresentei as minhas preocupações à Procuradoria Geral da República.

A verdade é que o chico-esperto mais eficaz vive encostado ao poder, nem que seja aos pequenos poderes. Vive nessa sombra a fazer-se valer da ineficiência do Estado, ou melhor, da total desorganização em que vivemos. Perante esta realidade, só me resta pedir aos enfermeiros portugueses que se recusem a vacinar chicos-espertos. Isto é, denunciem os fura filas e não aceitem ser cúmplices da violação da cadeia de prioridades e do próprio plano de vacinação.

Num momento em que ainda não vacinámos todos os profissionais de saúde, temos dois cenários estranhos aos olhos do País. Por um lado, multiplicam-se as notícias sobre os ditos fura filas, por outro, introduzem-se como prioritários centenas de titulares de órgãos de soberania sem que se entenda o real valor dessa medida. A política vive do exemplo, ou deveria viver. Governar pelo exemplo tem um poder mobilizador extraordinário.

É indiscutível que se deve vacinar as mais altas figuras do Estado como forma de garantir que não se coloca em risco a governabilidade, mas não se pode colocar tudo no mesmo saco. A título de exemplo, ninguém entende que se vacine um autarca antes de ser garantida a vacinação a um enfermeiro que constitui a brigada de intervenção rápida nos lares.

Os tempos que vivemos pedem lideranças determinadas e cidadãos conscientes. Não sairemos desta tragédia na lógica do salve-se quem puder. O plano de vacinação contra a Covid-19 deve unir-nos na esperança e não afastar-nos no egoísmo.

 https://www.sabado.pt/opiniao/convidados/ana-rita-cavaco/detalhe/nao-vacinem-chicos-espertos

 

 

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