O encantador de serpentes

  • 13-09-2022

Não deixe que a realidade lhe estrague uma boa história. Este parece ser o novo lema do Governo de António Costa. Fechado numa máquina de propaganda cada vez mais longe da realidade e apoiado no novo diretor de comunicação, o primeiro-ministro entrou numa realidade paralela cheia de meias verdades.

A apresentação do pacote contra a inflação é um belo exemplo desta forma de estar. Primeiro, prepara-se a audiência para o dia do “grande anúncio”, depois agenda-se a conferência de imprensa para as oito da noite, arranja-se um slogan e até se monta um cenário. De seguida, anunciam-se oito grandes medidas e sobre elas diz-se só o que se quer, escondem-se os detalhes e jogam-se “sound bytes” que não são mais do que instrumentos de publicidade enganosa, basta recordar o “vamos descer o IVA da eletricidade”.

Tudo espremido, o bónus nas pensões vem disfarçar um corte futuro, a redução do IVA na conta da luz, afinal, não vai além de trocos e as novidades para o gás e para os combustíveis já tinham sido anunciadas ou entrado mesmo em vigor. À falta de verdade total por parte do primeiro-ministro, sobraram as justificações do Presidente da República que veio sublinhar a necessidade do equilíbrio das contas públicas numa altura em que os juros disparam. Tudo certo. Foi pena que não se tivessem lembrado disso quando enterraram na TAP mais do que agora prometem entregar sob o lema “Famílias Primeiro”.

Estou cansada desta lógica de governação propagandista. António Costa trata-nos como um grupo de serpentes enquanto toca flauta. O encantador não percebeu que não se pode enganar toda a gente durante o tempo todo. No final do comício no Palácio da Ajuda, o primeiro-ministro ainda teve tempo para explicar que o pacote anti-inflação não belisca os investimentos necessários na Saúde. Quais investimentos? O investimento público no SNS está a cair mais de 30% face ao ano passado. O orçamento para 2022 até foi reforçado, mas a verdade é que o Governo não abre os cordões à bolsa na hora da verdade. São dados da Direção-Geral do Orçamento que desmontam mais uma manobra de propaganda.

O tempo corre e o bónus de outubro está a chegar. Depois, o subsídio de natal e as festas que ajudam a fazer esquecer o janeiro que aí vem. Pelo meio, teremos mais uma performance durante a apresentação do Orçamento do Estado. António Costa bem pode continuar a tocar flauta, mas as serpentes já não estão para danças.  

 

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