Oportunidade perdida

  • 09-11-2021

Seis anos não foram suficientes para a esquerda se colocar de acordo sobre um dos pilares da Democracia. Digo isto com tristeza e com a revolta de quem não aceita que aqueles que passaram a uma vida a agitar, e bem, a bandeira do SNS, tenham preferido as divergências aos consensos necessários.

Foram seis anos perdidos. O Governo não foi capaz de fazer as reformas necessárias para colocar a Saúde no centro do debate político. Quem o fez foi a pandemia. À força, os responsáveis políticos correram atrás do prejuízo, e uma vez ultrapassado o lado mais negro da tempestade, graças aos profissionais de saúde, voltámos aos velhos tempos. A guerra da pequena política abafou o debate, adiou as reformas e esqueceu os doentes e aqueles que todos os dias dão o seu melhor em nome do SNS.

Escrevo este texto e recordo-me de João Semedo e António Arnaut, dois combatentes que não quiseram partir sem nos deixar uma obra onde explicam a necessidade urgente de salvar o Serviço Nacional de Saúde. Está lá tudo para quem quiser ler, ou melhor, para quem tiver visão e coragem para decidir. Podemos não concordar com tudo aquilo que deixaram proposto, como é o meu caso, mas somos obrigados a exaltar o essencial: não teremos saída se continuarmos com um sistema subfinanciado, com graves dificuldades no acesso e onde os profissionais são convidados a sair.

A próxima campanha eleitoral tem de ser suficientemente esclarecedora sobre o que pensam os vários partidos em relação às políticas públicas de saúde. Não podemos correr o risco de ter uma discussão artificial sobre medidas gerais, nem tão pouco de ouvir promessas que depois ninguém cumpre. Em 2015, António Costa gravou um vídeo de campanha a sublinhar a importância dos enfermeiros, a criticar a sua desvalorização profissional e a denunciar o flagelo da emigração. Passaram seis anos. Ainda está no Youtube para quem quiser recordar. A verdade é que a realidade não disfarça a politiquice. A emigração continua a ser um problema e no que diz respeito aos salários, os enfermeiros portugueses são hoje dos mais mal pagos da Europa, ultrapassados por países como a Polónia, Estónia, Eslovénia e Roménia.

Os dois Governos de António Costa viraram as costas aos enfermeiros. Este último, ainda que curto, apenas teve a coragem de nos falar olhos-nos-olhos quando foi para pedir que salvássemos o País. Foi isso que fizemos, não por qualquer Governo, mas por Portugal e por todos aqueles que precisam de nós.

 

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